CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DOS TOLTECAS, MAIAS, ASTECAS E INCAS

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O JOGO DE BOLA MAIA

O grande campo de jogo de bola de Chichén Itzá

Os maias chamavam ao jogo de bola pitz, e a ação de jogar Ti Pitziil em Maia Clássico. A sua associação à mitologia era central para a crença religiosa maia. O mais antigo campo de jogo datado com precisão foi encontrado em Nakbé, Petén, na Guatemala, remontando a 500 a.C.  O número de jogadores ou pitziil variava de 2 a 5 por equipe, utilizavam proteções na cabeça (pix'om), ancas (tz'um), joelhos e cotovelos (kipachq'ab'), feitas de pele de jaguar ou veado. As partes corporais referidas eram as únicas a poder entrar em contato com a bola (kid), feita de uma mistura de látex e de seiva de uma dama-da-noite (Ipomoea alba), cujo diâmetro variava entre 25 a 30 cm e o peso entre 1.5 a 3 kg no período clássico. Jogar o jogo de bola era participar na manutenção da ordem cósmica do universo e regeneração ritual da vida. Era um jogo de sorte, perícia e batota refletindo a vida. O esforço de equipe levava à partilha de comportamento e cultura, apresentando, reforçando e reinventando o jogo da vida e o lugar de cada um na ordem cósmica. Nos tempos do clássico tardio, o jogo de bola estava ritualmente associado às guerras endêmicas entre as várias cidades-estado da época. O sucesso da conquista militar era recriado num jogo de bola público e ritual, em que prisioneiros de guerra de alta patente eram derrotados e sacrificados. Por vezes eram mantidos presos, torturados e em exibição pública durante anos antes de serem sacrificados.

RELAÇÃO COM A MITOLOGIA E RELIGIÃO MAIAS
O Popol Vuh define a importância do jogo de bola maia muito para além de um mero esporte. Fornece ainda importantes analogias para a interpretação do jogo de bola desde uma perspectiva mitológica. As primeiras aventuras relacionadas com o jogo de bola estabelecem a relação entre as pessoas e os deuses. A história começa com o pai e tio dos Gémeos Heróis, Hun Hunahpu e Vucub Hunahpu, filhos dos velhos deuses Ixpiacoc e Ixmucané. Os senhores de Xibalba, o inframundo, aborreceram-se com o ruído produzido por Hun Hunahpu e Vucub Hunahpu enquanto jogavam. O campo de jogo situa-se na orla oriental da Terra próximo do grande abismo. Os senhores principais de Xibalba, Um Morte e Sete Morte, enviam corujas para atrair os dois irmãos a jogarem no campo de Xibalba, situado na orla ocidental do inframundo. Os irmãos adormecem durante a viagem e acabam por ser sacrificados pelos senhores de Xibalba, sendo sepultados no solo do campo de jogo de bola. Esta história relaciona a prática do jogo de bola com os sacrifícios. Hun Hanahpu é decapitado e a sua cabeça colocada numa planta de fruto, que dá cabaças pela primeira vez. Isto está também relacionado com a proeminência de cabeças decorativas de animais e aves usadas como enfeites da cabeça. A história continua após o nascimento dos Gémeos Heróis, Hunahpu e Ixbalanqué. Encontram o equipamento de jogo de bola na casa de seu pai e começam a jogar, aborrecendo novamente os deuses de Xibalba. Ao contrário de seu pai e tio, os gêmeos sobrevivem a várias provas difíceis, com a ajuda de um mosquito (que morde as mãos dos deuses de Xibalba, obrigando-os a revelarem-se aos rapazes). Eventualmente, os gêmeos acabam por defrontar os deuses de Xibalba numa partida de jogo de bola. Mais tarde, enganam os senhores de Xibalba, levando-os a pensar que estão mortos, após saltarem para um caldeirão de sopa. Milagrosamente, os gêmeos renascem como peixes-gato, regressam à sua forma humana e efetuam falsos sacrifícios em que a vítima supostamente ressuscita. Quando dois dos deuses de Xibalba, Um Morte e Sete Morte, se oferecem para um destes falsos sacrifícios, os gémeos enganam-nos e levam a cabo um sacrifício verdadeiro. Os gémeos poupam as vidas dos restantes deuses de Xibalba, mas dizem-lhes que a partir desse momento apenas lhes poderão ser oferecidos sacrifícios de sangue de animais e seiva de cascarilha e que apenas podem incomodar as pessoas da Terra que sejam fracas ou que tenham alguma culpa. Os gémeos não conseguem fazer reviver o seu pai e deixam-no enterrado no campo de jogo de Xibalba. Por esse motivo, as palavras para campo de jogo e cemitério são sinônimos  Os campos de jogo tornaram-se para sempre ritualmente ligados com a morte. O campo de jogo tornou-se um local de transição, um estádio entre a vida e a morte. Ao longo da linha central do campo, eram colocadas gravuras de cenas míticas do jogo de bola, usualmente limitadas por um quadrifólio, que marcava uma entrada de um portal de acesso a outro mundo. Uma lição que se pode obter do Popol Vuh é a de que jogar o jogo de bola pode ser mortal e que a batota pode ser a única forma de superar os adversários. O grande campo de jogo de bola de Chichén Itzá O jogo aparece em vários mitos, às vezes como a luta entre os deuses do dia e da noite, ou as batalhas entre deuses do céu e senhores do inframundo. A bola simbolizava o sol, lua ou estrelas, e os aros significavam nascer do sol e pôr-do-sol ou equinócios. Com o aparecimento da cultura maia, o significado do jogo de bola ritual torna-se mais evidente. Foram dedicados muito tempo e energia à construção de campos de jogo de bola. Estes campos eram considerados portais para o inframundo maia, e eram construídos em zonas baixas ou aos pés de grandes construções verticais. O Grande Campo de Jogo de Bola de Chichén Itzá é o maior da Mesoamérica. Uma gravura em seis paineis de Chichén Itzá, mostra uma cena do Popol Vuh, indicando o significado cosmológico do jogo de bola na ideologia maia.

RITUAIS DE SANGUE
Em algumas ocasiões as cerimônias pós-partida incluíam o sacrifício do capitão e de outros jogadores da equipa derrotada. A associação do jogo com o sacrifício e a morte era particularmente vincada na costa do golfo. O crânio de um perdedor podia ser utilizado como o núcleo à volta do qual se fazia uma nova bola. Os sacrifícios humanos tornaram-se um desfecho comum para as partidas de jogo de bola, particularmente nos campos de jogo reais de cidades poderosas. Os nobre maias do clássico tardio eram ao mesmo tempo guerreiros e jogadores de bola. Um degrau duma escadaria hieroglífica em Yaxchilan, por exemplo, mostra o rei Pássaro Jaguar derrotando um prisioneiro de guerra no jogo de bola, e existe uma referência escrita a um prisioneiro de guerra num altar de Tikal. Os prisioneiros de guerra jogavam à bola com os vitoriosos, com um desfecho pré-determinado. Após o jogo, que constituía uma reconstituição ritual da derrota duma cidade-estado, os cativos eram muitas vezes decapitados ou os seus corações eram arrancados num sacrifício de sangue. As paredes do principal campo de jogo de bola de Chichén Itzá, retrata equipes adversárias, com o líder da equipe vencedora segurando a cabeça decapitada do líder adversário, que se encontra de joelhos com sangue em forma de serpentes jorrando do seu pescoço.
Fonte: pt.wikipedia.org
Formatação: Helio Rubiales

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