CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DOS TOLTECAS, MAIAS, ASTECAS E INCAS

quarta-feira, 22 de maio de 2013

JOGO DE BOLA MESOAMERICANO

Mapa mostrando os locais onde foram encontrados os mais antigos campos de jogo, bolas e figuras.

O jogo de bola mesoamericano era um desporto com associações rituais jogado ao longo de mais de 3000 anos pelos povos da Mesoamérica em tempos pré-colombianos. 

Uma versão moderna do jogo chamada ulama continua a ser jogada em alguns locais pelos habitantes ameríndios. Os campos de jogo de bola pré-colombianos têm sido encontrados desde o Arizona até à Nicarágua e também em várias ilhas do Caribe como Cuba e Porto Rico, o que denota bem a popularidade deste desporto americano. Apesar de poder ser jogado casualmente como simples recreação, inclusivamente por mulheres e crianças, o jogo tinha também importantes aspectos rituais, e grandes jogos formais eram acontecimentos rituais.

 ORIGENS
O jogo de bola mesoamericano é pelo menos tão antigo como a civilização olmeca. De fato, o nome que os astecas davam aos olmecas, olmeca, significa povo borracha (do nauatle ulli, "borracha"), pois atribuíam a origem do jogo de bola a este povo antigo. Uma dúzia de bolas de borracha, com diâmetros entre 10 e 20 cm, foram encontradas em El Manatí, um local sacrificial olmeca. As bolas mais antigas, que são também as menores, datam de 1600 a.C.. Estas bolas de borracha foram encontradas juntamente com outras oferendas rituais, indicando que mesmo em tempos tão remotos, o jogo já tinha conotações religiosas e rituais. Campo de jogo de bola de Monte Alban. O campo de jogo de bola mais antigo que se conhece, em Paso de la Amada, data de aproximadamente 1400 a.C.. Com aproximadamente 80 m de comprimento e 8 metros de largura, está situado entre dois montículos paralelos com bancadas de 2,50 m de profundidade e 30 cm de altura, dispostas segundo o comprimento dos montículos. Um campo de jogo de bola rudimentar foi também descoberto no sítio olmeca de San Lorenzo Tenochtitlán e existem provas significativas na forma de trabalhos artísticos olmecas. Durante escavações efetuadas em San Lorenzo foram ainda encontradas figuras de jogadores de bola, datadas por carbono 14 como sendo de 1250 a.C. a 1150 a.C.. Estas figuras encontram-se "vestidas" com cintos acolchoados e com faixas acolchoadas nos braços e pernas. Foram também encontradas figuras de jogadores femininos usando proteções almofadadas no abdômen e pernas. Juntamente com estas figuras, foram encontradas peças relacionadas com a iconografia do milho, sugerindo uma associação entre o jogo de bola e rituais de fertilidade. Pouco tempo depois da conquista dos astecas pelos espanhóis em 1521, o próprio Hernán Cortés levou para a Espanha uma equipe de jogadores de bola mexicas com o seu equipamento. Ali levaram a cabo jogos de exibição para a corte espanhola. Além de fascinados com os vistantes exóticos, os europeus ficaram maravilhados com as bolas de borracha saltitantes.

O JOGO
Como seria de esperar de um jogo praticado por tanto tempo por várias nações diferentes, os detalhes do jogo variaram com o tempo e local, e desta forma o jogo de bola mesoamericano pode ser melhor entendido como uma família de jogos semelhantes entre si. Algumas versões do jogo eram disputadas entre dois indivíduos, outras entre duas equipes.

A BOLA
As provas arqueológicas sugerem que a borracha já era utilizada na Mesoamérica durante o período pré-clássico inicial (1600 a.C.). À época da conquista espanhola era exportada borracha das zonas tropicais para toda Mesoamérica. A iconografia sugere que apesar de existirem variados usos para a borracha, as bolas de borracha tanto para oferendas como para serem utilizadas em jogos de bola rituais, eram os principais produtos fabricados com aquele material. Bolas de borracha solidificada eram queimadas frente a imagens de divindades e no interior de pirâmides e santuários. Para além do simbolismo antes referido, as bolas de borracha eram símbolos de fertilidade, pois tanto os astecas como os maias comparavam o látex que fluía do interior da árvore ao sangue e ao sêmen. O jogo de bola disputava-se utilizando uma bola de borracha endurecida feita a partir de látex obtido da árvore da borracha (Castilla elastica) nativa das áreas tropicais do sul do México e da América Central. O látex era transformado em borracha após ser misturado com seiva de Ipomoea alba. A mais antiga bola de borracha que se conhece foi descoberta no sítio olmeca de El Manatí, Veracruz, México.


O CAMPO DO JOGO
Os campos de jogo, em especial aqueles situados nas principais cidades maias do clássico tardio, eram espaços públicos utilizados para diversos acontecimentos culturais da élite e para atividades rituais como atuações musicais e festivais, e claro, o jogo de bola. Muitas vezes as representações pictóricas mostram músicos atuando nas partidas de jogo de bola. As representações de jogadores mascarados sublinha os aspectos dramático e ritual do jogo de bola e a sua ligação com outras formas de drama que poderiam ter lugar no campo de jogo, conforme o sugerido pelos murais pintados de Bonampak, por exemplo. A maioria dos campos de jogo de bola tinham forma de I, com uma zona central comprida e estreita, flanqueada por paredes inclinadas (no período clássico) ou com degraus (no pós-clássico), estucadas e pintadas com cores fortes. As extremidades do campo de jogo aparentemente suportavam estruturas temporárias onde os espectadores se sentavam. Estima-se que o tamanho médio dos campos de jogo fosse 36.5 por 9 metros, apesar de existir uma grande variabilidade. O maior de todos os campos de jogo conhecidos é o campo principal de Chichén Itzá, com 168 metros de comprimento e 70 de largura, maior que um campo de futebol. O campo ou quadra de jogo onde se disputavam as partidas, eram designados das seguintes formas em diferentes regiões da Mesoamérica:
Língua maia clássica: pitz
Língua maia k'iche':chaaj
Náuatle - tlachtli
Povos do México Central: tlaxtli
Sinaloa - ollama
O jogo propriamente dito era designado poc-ta-tok na língua iucateque e a ação do jogo Ti Pitziil em maia clássico. Por toda a Mesoamérica foram construídos campos de jogo utilizados ao longo de muitas gerações, com formas e tamanhos variáveis. Alguns locais tinham múltiplos campos de jogo, outros apenas um. Podem ser encontrados na grande maioria dos principais sítios arqueológicos mesoamericanos, apesar de notavelmente se encontrarem ausentes de outros, como Teotihuacan. Entre os locais com campos de jogo bem preservados incluem-se: Tikal, Yaxha, Copán, Iximche, Monte Albán, Yagul, Uxmal, Mixco Viejo, Zaculeu e Chichén Itzá. 

OBJETIVOS DO JOGO
O objetivo do jogo era enviar a bola para o lado do campo defendido pelo adversário; na época pós-clássica, o objetivo principal era enviar a bola através de um de dois aros verticais colocados um de cada lado do campo de jogo, na linha média do mesmo. O aro surgiu inicialmente nas terras baixas do norte da Área Maia durante o pós-clássico. Cada jogador tinha muitas vezes um colega de equipe diretamente atrás dele (ou dela), em apoio. Na versão mais comum do jogo, a bola era atirada à mão para o campo, e a partir desse momento os jogadores apenas podiam bater a bola de um lado para o outro do campo com as coxas, ancas e braços (sem chutar ou agarrar com as mãos) e através dos aros colocados nas paredes laterais do campo. Em algumas versões do jogo, os pés eram usados como no futebol atual. Noutras eram usados bastões, pás ou raquetes. Não existem testemunhas do jogo de bola praticado pelos maias do período clássico, mas talvez o jogo praticado pelos astecas e testemunhado pelos espanhóis no século XVI possa ser comparável. No jogo de bola asteca perdia pontos o jogador ou equipe que deixasse a bola tocar no solo mais que uma vez antes de a enviar de volta ao meio-campo adversário, que deixasse a bola sair do campo, ou que falhasse na tentativa de fazer a bola (com 3 a 4 kg de peso) atravessar os aros colocados em cada parede lateral.
Um aro de campo de jogo de bola, Chichén Itzá 

Na Área Maia existem aros semelhantes, alguns dos quais bastante altos, como em Chichén Itzá, onde se encontram a 6 metros do solo.


OS JOGADORES
Os jogadores Os jogadores utilizavam proteções acolchoadas feitas de algodão, provavelmente recheadas com algodão por fiar, enroladas à volta de placas provavelmente feitas de madeira colocadas à cintura, mas certamente não feitas de pedra como as encontradas em alguns locais. Cabeças esculpidas, e muitas vezes cabeças troféu, eram cravadas nas placas de madeira, como mostra uma figura de cerâmica de um jogador do clássico tardio usando uma placa com uma cabeça de pássaro esculpida. Peles de veado pintadas com cores garridas eram usadas à volta das ancas proporcionando proteção adicional.
Escultura em cerâmica encontrada num túmulo do México ocidental mostrando os jogadores numa partida e jogo de bola mesoamericano.

Além destas proteções, os jogadores utilizavam também almofadas nos joelhos e proteções nas pernas e antebraços. Em certas ocasiões, os jogadores usavam elaborados ornamentos de cabeça, muitas vezes retratados em vasos de cerâmica pintada. Alguns dos jogadores mascaravam-se, como Yax Pac de Copán, sublinhando a importância ritual do jogo de bola. Tratava-se de um jogo extremamente violento. Ocorriam frequentemente ferimentos graves infligidos quer pela bola densa e pesada quer por outros jogadores e as mortes eram relativamente comuns. Algumas contusões sofridas durante o jogo eram tão severas que tinham que ser lancetadas de forma a extrair o sangue acumulado. Isto seria certamente significativo nos rituais de sacrifício e sangria que acompanhavam o jogo de bola asteca. Não se sabe se era permitido o contato físico entre os jogadores.
Fonte: pt.wikipedia.org
Fomatação: Helio Rubiales

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